Conservação da biodiversidade na UFJF

por Eduardo Malvacini

Banco de Germoplasma

Imagine um grupo de plantas que, provavelmente, só exista em um lugar no planeta. Agora imagine que essas plantas são de rara beleza ou, então, que tenham potencial medicinal. Não parece muito arriscado que elas fiquem apenas nesse local, sujeitas a incêndios, secas, fungos ou qualquer tipo de contaminação que possa fazer com que elas desapareçam para sempre e que talvez percamos materiais que nem sequer sabíamos as possíveis utilidades?

Essa situação é mais comum do que parece. Só no Parque Estadual de Ibitipoca, por exemplo, encontram-se mais de 30 espécies endêmicas de Bromélias, espécies que só existem em locais específicos. Quando, por exemplo, uma área é alagada por conta da construção de uma usina hidrelétrica, essas espécies podem ser extintas. Outros fatores de risco são a mineração do solo, extrativismo vegetal e pisoteio que são fatores antropogênicos.

Professor Paulo Peixoto na Estação Experimental de Cultivo de Plantas da UFJF

Para proteger essas espécies, existe na UFJF o Laboratório de Cultura de Tecidos, coordenado pelo professor Paulo Peixoto, do Departamento de Botânica da UFJF. O pesquisador vem há quase  10 anos desenvolvendo projetos de cultura de tecidos, sempre com o objetivo de conservar biodiversidade.

O laboratório mantém um Banco de Germoplasma que permite que sejam guardados exemplares de várias espécies ameaçadas para multiplicação em massa, caso seja necessário, ou para que sejam comercializadas. Em teoria, esse material também pode ser devolvido ao campo. Outra grande empreitada do trabalho de cultura de tecidos é descobrir quais são os meios mais propícios para o desenvolvimento de cada espécie, quais hormônios são mais indicados para cada etapa da cultura, para, enfim, dominar a metodologia de multiplicação em massa dessas espécies.

Cultura in vitro

O processo de cultura de tecidos in vitro é, em linhas gerais, um método de clonagem vegetal, onde um exemplar de uma espécie é utilizado para dar origem a vários outros em uma proporção geométrica. A clonagem vegetal não gera tanta controvérsia como a animal e já está estabelecida a centenas, senão milhares, de anos como uma prática natural: de partes de uma planta cria-se outra planta idêntica – um clone. Esse processo é utilizado para propagar inúmeras espécies de plantas, como batatas, bananeiras e abacaxizeiros. A palavra clone, inclusive, vem do grego klon que significa “broto”.

Crescimento de plantas nos tubos de ensaio

No laboratório, em condições assépticas, as plantas vindas do campo são desinfetadas para que não cresçam fungos nem bactérias na cultura; depois são colocadas em tubos de ensaio onde irão crescer com ajuda de hormônios. Após essa etapa as plantas são divididas em vários pedaços – explantes – que servem como mudas e são inoculados em meio de cultura para crescimento. Esse processo pode ser repetido inúmeras vezes e, por isso, é considerado de multiplicação em massa.

Depois de atingido o número desejado de exemplares, é necessário que eles formem raízes para que sejam transplantados para a terra. Para isso, são utilizados outros hormônios cuja quantidade e mistura devem ser testadas a fim de se descobrir qual é a mais eficiente.

Aclimatação

Após a multiplicação e o enraizamento, a equipe do laboratório tem de fazer com que essas plantas possam retornar ao campo – processo de aclimatação. Esse retorno é dividido em várias fases, nas quais, gradativamente, as plantas são expostas a meios com menos umidade para que reativem suas proteções naturais contra a evaporação da água de suas folhas e para que fiquem mais resistentes. Porém, segundo Paulo, é muito raro que se dê continuidade ao projeto com o objetivo de acompanhar a adaptação dessas espécies de volta ao campo. Faltam ainda recursos para essa fase, uma vez que os projetos de instituições como, por exemplo, a FAPEMIG, tem apenas dois anos de duração. Falta também entrosamento com órgãos públicos como o IEF (Instituto Estadual de Florestas) para incentivar e tornar viável essa fase tão importante do projeto.

Plantas em processo de aclimatação

Há, nessa etapa, uma preocupação chave, que é saber se o material irá se portar de maneira natural após ter passado pelo processo de cultura de tecidos. Como pondera o professor, “vários exemplares, dentre verbenáceas e bromélias, trabalhados pelo laboratório já floresceram, o que mostra que eles mantêm a viabilidade”. Esses exemplares são mantidos na Estação Experimental de Cultivo de Plantas da UFJF, espaço que serve não só para os testes da etapa final dos experimentos, mas também para armazenar espécies que já foram multiplicadas e outras que vieram do campo e ainda vão passar pelo processo.

Como explica Paulo, o processo de cultura de tecidos, também conhecido como micropropagação, possui pontos positivos e negativos: “a vantagem é que as plantas são todas geneticamente idênticas, e a desvantagem é que elas são geneticamente idênticas, ou seja, essa plantas tem qualidades idênticas, porém tem também as mesmas fragilidades. Na prática isso quer dizer que se um espécime é sensível a um fungo ou a qualquer outro fator biótico ou abiótico, todos vão ser. Mas, pensando nisso, a equipe produz clones de mais de um indivíduo, para que seja mantida alguma variabilidade.” Ele afirma ainda que esse processo é usado mais comumente pela agroindústria no sentido de reproduzir em larga escala plantas com qualidades desejáveis como produção ou sanidade – livrando-as de vírus, por exemplo.

Paulo acredita que, com o estabelecimento do Jardim Botânico da UFJF, haverá novas possibilidades de continuidade para a pesquisa como a criação de um bromeliário ou um orquidário para visitação pública e produção de mudas para comercialização com o objetivo de tornar o projeto auto-sustentável. Para o professor, o Jardim Botânico apresenta um grande potencial para estudos futuros, mesmo sendo uma mata secundária. Além disso, está prevista a expansão do laboratório, para que possa atender a um maior número de espécies e aumentar as possibilidades de armazenamento de biodiversidade.

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