Trabalhadores domésticos usam a criatividade para aumentar o orçamento

Divulgação Internet

Por Carol Laporte

Dia 27 de abril é o dia do trabalhador doméstico. Isso quer dizer que  7,2 milhões  de brasileiros podem se sentir homenageados nesse dia. Segundo o IBGE, esse número representa um percentual de 16% dos empregos femininos e 59,6% dos empregos totais no país.

A criatividade em favor do orçamento

Apesar dos tradicionais trabalhos como auxiliar da casa, faxineira e motorista, o enorme peso desse mercado na economia abre espaço também para a inovação daqueles que lucram informalmente. Sônia Cristina, 35 anos, virou uma “cozinheira de aluguel”. Depois de escutar muitas amigas reclamando da falta de tempo para preparar o almoço, a idéia que ela teve de ajudar estranhos a comer bem, com rapidez, foi natural. “ Todo mundo me dizia que a minha comida era gostosa, e como meu marido não almoça em casa, eu sempre ficava livre nesse horário, bem na hora que todo mundo começa a correria.”.

A inovação deu certo. Sônia vira uma auxiliar da casa, mas só por algumas horas. No seu serviço, entra o cardápio que o cliente escolher, ela leva as compras necessárias, inclusas no preço do pagamento final, e utiliza a cozinha dos “patrões” para o preparo do alimento. Depois lava tudo e vai embora. “Sempre me pedem para trabalhar fixa, e eu adoro porque quer dizer que as pessoas estão gostando da minha comida, mas prefiro ficar solta, cada dia em um lugar, e às vezes fazendo café da manhã em uma casa e almoço em outra, dá mais dinheiro”.

Não são só as mulheres que aproveitam a falta de tempo das pessoas para oferecer serviços que simplificam o cotidiano de forma personalizada. José Amir é um “marido de aluguel”, ou como ele mesmo nomeia, “pau para toda obra”. “Eu faço aqueles serviços de quando as pessoas precisam de alguém habilidoso, que antigamente eram os maridos quem faziam. Elas querem que as coisas se resolvam sem pagar muito, como se fosse um favor de vizinhos ou amigos”. José resolve curto-circuito, arruma chuveiro, desentope a pia ou o vaso. “São coisas gerais, mas que atrapalham a gente. E tem vários homens que pedem ajuda; é muito normal as pessoas não terem tempo de fazerem essas tarefas, então eu faço para elas”. José não é o primeiro a investir nesse tipo de trabalho, em Juiz de Fora já existe inclusive uma “SOS Consertos e Serviços S.A”,  que reúne vários especialistas para resolver justamente esses contratempos da casa.

Trabalhadores fixos são os que mais sofrem com salário

Tanta criatividade funciona como uma alternativa aos problemas dos que trabalham tradicionalmente em casas de outras famílias. O trabalhador doméstico tradicional é o que mais sofre com o problema de carteira assinada e salário no Brasil. Somente 2,7% desses profissionais são legalizados  e recebem, em média, cerca de R$300 por mês. Os números pioram se as trabalhadoras forem negras; elas representam 59,2% da informalidade que recebe ainda menos; aproximadamente R$280 por mês.

Em análise por região, o IBGE  constatou que a maior proporção de trabalhadores com carteira de trabalho assinada está no Sudeste, 67,3%, seguida pelo Sul, 67,1%, e Centro-Oeste, 56,0%. Os piores percentuais estão no Norte, 42,4%, e Nordeste , 43,9 %. A pesquisa, no entanto, é positiva; entre 2004 e 2009, enquanto o número de trabalhadores domésticos cresceu 11,9%, o de trabalhadores domésticos com carteira aumentou 20%.

As vantagens da carteira assinada

Para Eduardo Lopes, advogado, a importância da regulamentação do trabalho doméstico é tanto econômica quanto social: “A carteira assinada permite a fiscalização das leis trabalhistas, impede o abuso daqueles que contratam, impossibilita o descaso com o salário do trabalhador e permite que se comprove o tempo de serviço, o que mais tarde vai levar a uma aposentadoria segura”. Lopes ainda chama a atenção para as vantagens imediatas da carteira assinada: “ Se você sofre um acidente de trabalho, fica doente ou engravida, por exemplo, com carteira assinada você tem o suporte da lei. Além disso, a carteira assinada dá direito a receber mensalmente pelo menos um salário mínimo, férias anuais com adicional de um terço do salário, 13° , pago em duas parcelas, aviso prévio, licença maternidade remunerada de 120 dias e a aposentadoria. Se você não tem, cobre do seu patrão, é um direito seu.”

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